Histórico
Cambé: uma cidade, muitas histórias
Existem muitas formas e pontos de vista para se contar uma história. No caso do Município de Cambé, temos em especial dois acontecimentos que foram norteadores dos processos de formação da nossa sociedade. Um se refere aos povos indígenas que habitaram toda a nossa região e em especial, a descoberta de uma missão jesuítica denominada Missão San Joseph, que existiu entre 1625 e 1631, onde hoje está a Fazenda Santa Dalmácia, ao norte do município..
Outro fato seria a história da reocupação da região, ação realizada pela Companhia de Terras Norte do Paraná, empresa que adquiriu grande quantidade de terras e implementou uma colonização estimulada, caracterizada principalmente por pequenas propriedades rurais, venda em condições facilitadas, núcleos urbanos para dar apoio e servir como centro de abastecimento ao meio rural, além do o uso de propagandas e agenciadores que arregimentaram grande número de pessoas interessadas em conhecer as famosas ‘terras roxas’ do norte do Paraná.
Dentro desse processo, em janeiro de 1932 os primeiros compradores vindos da cidade Livre de Danzig, na Polônia, chegaram para fundar a Colônia “Neu Danzig”. Alguns meses depois, várias famílias de origem japonesa vieram de Cafelândia-SP para fundar a Colônia Lorena e famílias de origem eslovaca vieram de Caiuá-SP para fundar a Colônia Bratislava.
Em poucos meses, italianos, espanhóis, portugueses, libaneses entre outras etnias, aliados a brasileiros principalmente do interior de São Paulo e Minas Gerais com as mais variadas ocupações profissionais, também vieram para se estabelecerem nessa nova frente colonizadora do norte do Paraná.
No mesmo ritmo de ocupação da zona rural, o núcleo urbano projetado pela Cia de Terras que também ganhou o nome de Nova Dantzig e tinha como um de seus limites a rua Alemanha (atual rua Belo Horizonte), que ficaria paralelo aos trilhos da linha férrea e circundando as demais ruas para traçar o outro limite da malha urbana a rua Rússia (atual rua Nossa Senhora do Rocio) passou a receber profissionais das mais variadas profissões e em pouco tempo muitas residências e estabelecimentos comerciais foram surgindo no pequeno vilarejo. O poder público instalou uma agência de rendas e nomeou um agente, um subdelegado e passou a prestar alguns serviços necessários para a manutenção do espaço urbano.
O grande interesse pelas famosas terras roxas do norte do Paraná, atraiu milhares de pessoas que foram chegando e ocupando toda a região. No recém fundado núcleo urbano, o desejo latente da população passa a ser a busca pela autonomia administrativa e uma ação importante nesse sentido aconteceu em 1937 - portanto, 5 anos após a chegada dos primeiros moradores - com a criação do Distrito Judiciário de Nova Dantzig e a consequente nomeação de Juiz de Paz, Escrivão, Subdelegado de Polícia e Agente de Fiscalização.
Nessa época, o Distrito contava com 2000 habitantes com 460 prédios e uma Casa Escolar com 200 crianças, além disso, possuía água encanada e já estava prevista a iluminação elétrica. A criação do Distrito Judiciário representou importante conquista rumo a emancipação política e administrativa, que aconteceria em 1947.
Em 1943, por causa da 2ª Guerra Mundial, o Governo do Estado do Paraná editou um decreto-lei mudando o nome de cidades que tinham relação com os países inimigos - Alemanha, Japão, Itália - assim, Nova Dantzig passou a se chamar Cambé, nome de um ribeirão que banha o município e que no idioma Kaingang significa Veado. Cabe ressaltar que as autoridades não levaram em consideração o fato de o nome Nova Dantzig ser em homenagem aos imigrantes que vieram de uma cidade livre e autônoma, eles consideraram o idioma falado por eles, o alemão. Além da mudança de nome do Distrito, a guerra causou outras ações negativas contra os imigrantes alemães, japoneses e italianos como a tomada da Escola Alemã que pertencia a Associação Escolar da Colônia, a proibição de falar o idioma, possuir rádios, armas, viagens só com salvo-conduto, diversas detenções e prisões, confisco de terras e bens entre outras ações.
Com o passar do tempo, o ideal de emancipação passou a ser assunto recorrente nas reuniões sociais, políticas e religiosas. Motivados pelas mudanças políticas ocorridas em nível nacional com o fim do Estado Novo em 1945, um grupo de habitantes da Vila de Nova Dantzig resolveu criar uma associação que trabalhasse pela autonomia municipal e também por todas as causas que beneficiassem a comunidade. Assim, no início de 1947, surgiu a Sociedade dos Amigos de Cambé, que realizou diversas reuniões, atividades e encontros com autoridades estaduais para o alcance do objetivo primordial da associação. Para custear as despesas decorrentes do trabalho da Sociedade, um “Livro Ouro” foi criado para arrecadar doações da comunidade e auxiliar assim no pagamento das despesas com o trabalho em prol da emancipação.
Finalmente, em 11 de outubro de 1947 por meio da Lei Estadual número 2, o Distrito foi elevado à Categoria de Município, emancipando-se da cidade de Londrina. Ato contínuo, houve a nomeação de um prefeito provisório e a imediata convocação de eleições para a escolha dos representantes, tanto do executivo, quanto do legislativo. Ocorridas as eleições no dia 16 de novembro de 1947, o Professor Jacídio Correia venceu o pleito tornando-se o primeiro prefeito eleito de Cambé.
Para a Câmara Municipal, a 1ª Legislatura ficou composta pelos seguintes vereadores: Arlindo Codato, Eduardo Rodrigues, Eustachio Sellmann, Francisco de Paula Vieira, José Cilião de Araujo, Luiz Ricieri, Paulo Cristino, Maurício de Carvalho e Plácido Pietrobom.
Cabe ressaltar que esse processo de emancipação não deve ser considerado como uma questão política local de moradores idealistas. Deve-se entendê-lo num contexto de redemocratização do país, com um engendrado jogo político de organização das forças partidárias em todos os níveis, inclusive a lei que emancipou Cambé, também criou outros 22 municípios. Outro exemplo desse processo de formação das forças políticas pode ser evidenciado pelo próprio ato de emancipação da cidade, com a assinatura por parte do Governador Moysés Lupion que o faz na presença de Jacídio Correia, seu aliado político, que imediatamente se candidata e se torna o primeiro prefeito eleito de Cambé.
Nos primeiros anos, a extração de madeira e a agricultura de subsistência foram a base da economia, porém rapidamente o café passou a ocupar o lugar como impulsionador da economia essencialmente agrícola de Cambé e região. Foi por meio da cultura do café que a cidade alcançou grande desenvolvimento, sendo homenageada no Hino da Cidade, na Bandeira, Escudo, tornando o município um dos mais desenvolvidos do Brasil. Posteriormente, diversos fenômenos climáticos e a ação do governo federal e estadual foram causando desestímulo nos agricultores e a geada de 1975 acabou por fazer com que muitos abandonassem o café, passando a cultivar outras culturas como soja, trigo, milho, algodão etc. Outro fenômeno que devemos destacar foi o êxodo rural, uma consequência de outros tantos fatores que ocasionaram uma mudança do perfil econômico do município de Cambé, passando de uma cidade com economia essencialmente agrícola para uma economia agroindustrial e de prestação de serviços.
Atualmente, Cambé se destaca com o segundo maior número de indústrias na região metropolitana de Londrina, com forte geração de postos de trabalho, relevante participação no produto interno bruto e arrecadação de ICMS. A cidade possui ótima infraestrutura, alcançando excelentes índices na área de educação, saúde e saneamento básico, além disso, a região dispõe de uma grande cadeia de serviços, comunicação com diversas estações de rádios e televisões, várias universidades públicas e privadas e um fácil acesso a dois importantes corredores de exportação, um que vai ao Porto de Paranaguá, no Sul do Paraná, e outro ao Porto de Santos, em São Paulo.
Texto elaborado por Eduardo Pavinato, servidor do Museu Histórico de Cambé, Historiador e Mestre em História Social pela Universidade Estadual de Londrina.
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